Bsbart

Pequeno Monstro mostra a homofobia e o bullying

Quando:
26/06 - 20:00h   a   06/07 - 19:00h
Local:
Teatro da Caixa Cultural
Pequeno Monstro

O BSB Art viu o solo teatral de Silvero Pereira, Pequeno Monstro, baseado num conto de Caio Fernando de Abreu, mas que acrescenta experiências pessoais.

Já de início uma cenografia limpa nos confronta: plástico transparente no chão, uma bateria, algumas lâmpadas e o fundo branco. No início do espetáculo, um sopro vai inflando o plástico e notamos que é um imenso tubo flexível, enchendo lentamente. Ao completar o enchimento de ar, o ator entra no tubo. É para dar a sensação de sufocamento que nós homossexuais sentimos durante toda a infância e atinge o objetivo.

Notamos o incômodo como uma corrente elétrica perpassando toda a plateia. É como um prelúdio para o que está por vir. Silvero tem um trabalho de corpo excelente, voz, expressão, verdade cênica, tudo lá. Alguns críticos podem insinuar que ele está falando de si, e isso contribui muito para atingir a tão sonhada verdade. Todavia, não é bem assim. As pessoas profissionais das artes cênicas têm por hábito vestir múltiplas personagens para viver outras vidas. Viver a si mesmo e se vestir como personagem dá incômodos.

Esses incômodos vão perpassar todo o solo artístico. Foi excelente ver que um espetáculo com temática exclusivamente LGBTQIAPN+, encenada por um ator da comunidade e proveniente do Ceará, capaz de lotar um teatro. Isso porque o público que costuma freqüentar teatro em Brasília é majoritariamente de classe média alta. Mas não foi o caso, porque pude notar pessoas de todos os tipos.

Histórias pessoais apresentadas em toda a crueza

O texto segue a história de um homossexual desde o descobrimento traumático até a idade adulta, mas não em linha reta. Os recursos de saltos temporais, idas e voltas, projeções e iluminação dão um sabor especial a tudo isso. Silvero nos apresenta a genealogia da família: os quatro avós e a imensa quantidade de tios e tias, primos e primas. Todos com defeitos sociais inaceitáveis, mas em família, convivem naturalmente.

Nada obstante, a “sexualidade desviante” deve ser silenciada e reprimida. Lembrou-me muito um caso de família. Não citarei nomes, mas um parente distante foi preso por pedofilia. Meu tio materno, num almoço, soltou: “ah, mas eram só umas putinhas”. Enxerguei tudo vermelho e soltei: “muito pior. Ele é um cara estudado, tinha de ter tirado essas meninas da vida e oferecido saídas, e não abusado e estuprado”. Torta de climão servida minutos antes do almoço.

O tema da homossexualidade percebida na infância

Desde crianças, nós homossexuais somos expostos. O jeito afeminado, a voz, o gosto por certas brincadeiras, tudo isso nos denuncia. Na peça, Silvero nos apresenta como era para ele. Nesse sentido, dá para perceber o incômodo dos heterossexuais da plateia, e o reconhecimento dos homossexuais. Deve ser gratificante para ele, porque no teatro a energia da plateia sobe para o palco e contagia a encenação.

Por fim, quero agradecer à oportunidade de ter sido apresentado a esse personagem real que é tão parecido comigo em muitos aspectos e recomendar a todos que vejam o Solo. Tanto os homossexuais quanto seus familiares devem ser apresentados ao universo do espetáculo e às dores e delícias de sermos quem somos. Parabéns Silvero!

O espetáculo está em cartaz até a primeira semana de julho, no Teatro da Caixa Cultural.

Informações Pequeno Monstro

Local: CAIXA Cultural Brasília
Data: 26 de Junho a 6 de Julho • Quinta, Sexta e Sábado – 20:00 h • Domingo – 19:00 h 
Sessão Extra: 5 de Julho – 18:00 h
Duração: 60 minutos
Classificação: 14 anos
Ingresso: Compre Aqui

Cristovam Freitas

Cristovam Freitas, brasiliano, sessentão, aficcionado por teatro, literatura e cinema. Morando em Brasília, mas o coração está enterrado no Rio de Janeiro.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

No Site BSB Art você encontra informações sobre Teatro, Exposições, Eventos, Cinema, Livros e muito mais.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE